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“A agricultura é a galinha dos ovos de ouro do País”

21/01/2010
“A agricultura é a galinha dos ovos de ouro do País” 21/01 - "Descobrimos a agricultura tropical graças às pesquisas brasileiras, às universidades e aos institutos”, diz o presidente da SRB Fundada com o objetivo de integrar toda a cadeia do agronegócio, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) completou 90 anos em 2009, e sua história está intrinsecamente relacionada à trajetória desse setor no País. Temas fundamentais como novas tecnologias, questão agrária e código florestal, além do desenvolvimento e do futuro do agronegócio foram abordados por Cesário Ramalho da Silva, atual presidente da SRB, durante entrevista exclusiva à Monsanto em Campo. "Descobrimos a agricultura tropical graças às pesquisas brasileiras, às universidades e aos institutos”, diz o presidente da SRB Quais foram as principais mudanças no agronegócio ao longo dos últimos anos? A agricultura continua a mesma, a vocação e o amor pela terra não mudaram. Ela é fator de integração no nosso País; é determinante para mantermos uma única língua. Além disso, é primordial para a geopolítica brasileira de ocupação e consolidação do Estado. Por outro lado, tivemos também evoluções fantásticas. Saímos de uma agricultura de clima temperado, que copiava a europeia, e descobrimos a agricultura tropical graças às pesquisas brasileiras, às universidades e aos institutos. Descobrimos o Brasil e mostramos ao mundo que podemos ser um país de sucesso, que cresce, enriquece e que recentemente inseriu 30 milhões de pessoas num contexto de consumo por meio da agropecuária. E de que forma a SRB participou dessa evolução? A Rural atuou em vários movimentos e momentos da história do Brasil. Tivemos, por exemplo, uma participação muito forte na questão da nova constituição brasileira, defendendo a democracia e as eleições diretas. Também nos antecipamos aos fatos e acontecimentos. Vimos, há algum tempo, que a agricultura não seria mais uma agricultura da terra e da enxada, mas sim que estaria inserida num contexto tecnológico. Sempre defendemos essa interação e integração, até mesmo porque a Rural foi fundada sobre essa base. Hoje, trabalhamos pensando muito na classe média rural brasileira, pois são esses produtores que sustentam qualquer país, qualquer setor do mundo. Porém, toda a pessoa ou atividade que fala do setor rural é interessante para nós. Não defendemos a agricultura do rico ou do pobre; do pequeno, do médio ou do grande produtor. Defendemos a produção rural brasileira, desde um grão de soja ou milho, ou um quilo de carne, até milhões de cabeças de gado, milhões e bilhões de sementes ou grãos de qualquer uma das variedades que produzimos. Interagir com outros setores também foi um legado da Rural, e esperamos reciprocidade na defesa do produtor brasileiro, pois a nossa agricultura é a galinha dos ovos de ouro do País. Além disso, sempre fomos “produtores” de lideranças. Diversas pessoas saíram daqui para ocupar cargos de destaque nos mais variados órgãos, secretarias, ministérios e autarquias. Com toda a modernização do agronegócio, tecnologia é um dos focos da Rural? Sem dúvida, agricultura é tecnologia. O desafio das novas tecnologias, como a biotecnologia, é muito grande, pois elas têm que trazer renda para o campo. Um agricultor no vermelho não pode cuidar do verde. Por isso, queremos interagir com empresas comprometidas com o produtor brasileiro, com pesquisas, com melhores produtos e que queiram agregar valor e aprimorar a agricultura nacional. Sempre busco apoio dos demais setores para que a agricultura tenha tranquilidade e paz para produzir. A agricultura brasileira tem apresentado bons índices de produção e contribuído para os resultados do País. O que mais é preciso para melhorar esse setor? O IBGE mostrou no último Censo que a agricultura brasileira se desenvolveu. A soja teve 86% de crescimento em 10 anos e o milho quase 50%. Não gosto de dividir o País em brasileiro A, B ou C. Somos todos um único Brasil, e o produtor rural de uma forma geral precisa ter mais apoio. Eles precisam de estradas e transporte para levar os produtos para as cidades e outros países. O agricultor brasileiro não pode plantar e não saber se vai ou não colher. Dependemos de fatores alheios à nossa vontade, então precisamos de um seguro rural. A agricultura em todo o mundo tem blindagem por meio de seguro, de preço, de subsídios. Gosto sempre de ressaltar que a agricultura é uma só. Por isso, o País não pode mandar uma delegação, por exemplo, para a OMC ou para a União Europeia para defender um produto rural brasileiro específico, para defender o pequeno ou o grande. Nesse cenário, qual o papel do pequeno produtor? Nesse panorama, o pequeno agricultor é tão importante quanto o grande, seja no Paraná, em Santa Catarina ou outro Estado, seja produzindo aves, suínos ou tabaco. O projeto Lupa da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo mostra uma redução no tamanho das propriedades de 73 para 63 hectares em 10 anos. Ou seja, o maior estado agrícola do País tem uma propriedade de 63 hectares de média. O Censo Agropecuário do IBGE retratou pela primeira vez os pequenos produtores. Qual a importância disso? A agricultura familiar é saudável. Só não podemos misturar agricultura familiar com assentamento. O agricultor familiar é o indivíduo com vocação, que nasce sabendo o que tem que fazer no campo, que vai adorar quando tiver acesso a uma semente que não deixa a lagarta prosperar. Há muitos anos o Brasil tem sérios problemas com a distribuição de terras. Como a SRB encara esse problema? O Brasil é um país com uma extensão territorial colossal, com espaços imensos a serem aproveitados. A pecuária está se intensificando e liberando as áreas de pastagens existentes para a agricultura. O setor sucroalcoleiro é um exemplo que vem crescendo sobre essas áreas. Segundo técnicos, temos 90 milhões de hectares para aumentar a nossa produção e ajudar a alimentar os mais de 1 bilhão que passam fome. É preciso ter comprometimento para aumentar a produção a preços adequados, ao mesmo tempo elevar salários e renda das pessoas. Precisamos, também, minimizar as questões da violência contra o direito de propriedade. Quais são os principais desafios do agronegócio atualmente? Um dos principais desafios é ajustar as questões estruturais, como estradas, e o excesso de imposto. Enquanto pagamos quase 40% de impostos, os EUA pagam 2%. E vendemos soja e carne onde os americanos, os argentinos também vendem e têm uma taxação muito menor. Não podemos mais ter um custo de frete que onera o produtor rural e uma legislação trabalhista antiquada e superada que pune o agricultor, pois é inaplicável no setor. Não podemos colher e não ter onde guardar, ter apenas financiamentos de curto prazo. Precisamos ter um programa de acesso à terra para aquele indivíduo com vocação, por meio de um banco rural ou de fomento. Se o brasileiro pode comprar um veículo em 100 meses, tem acesso ao programa Minha Casa, Sua Casa, por que ele não tem acesso à terra? Há regiões do País com uma classe média altamente capacitada para produzir e o governo tinha de investir nessas pessoas. Como o setor rural pretende trabalhar sua imagem e fazer com que setores urbanos da opinião pública entendam as questões agrícolas? O setor rural precisa se organizar melhor. A defesa do setor está um pouco diluída. Temos de preparar uma grande operação em defesa do agronegócio, fazer a sociedade brasileira entender que é preciso ter orgulho do campo. Hoje, quem derruba na Amazônia não é o produtor rural, e a sociedade precisa saber disso. Quem está lá é o grileiro, o ladrão de madeira. Muitas lideranças rurais dizem que é preciso haver uma compensação para preservar os biomas. Qual é a posição da Rural? Temos de conservar os biomas, seja o Pantanal, o Cerrado - região onde tanto produzimos -, a Amazônia, a Serra do Mar ou a Mata Atlântica. É preciso ter essa preocupação, pois se trata de um patrimônio brasileiro. O produtor que preserva precisa ter uma remuneração pelos serviços ambientais prestados. É impossível ter uma fazenda com 20% ou 35% da área, no Cerrado, preservada por uma lei que não ajuda. A sociedade já aplica isso ao patrimônio histórico brasileiro. O museu do Ipiranga, na capital paulista, por exemplo, era uma casa e está preservada, o Estado paga. As fazendas do interior de São Paulo, da época do café, de 300, 400 anos atrás são tombadas pelo patrimônio público e têm uma verba que as mantêm. Não é exatamente o mesmo ponto, mas é um princípio de preservação. As questões de meio ambiente não são apenas do produtor rural, são da sociedade. O maior poluidor e devastador do Brasil não é o setor rural. Quem destrói o meio ambiente é o meio urbano. Qual a proposta da SRB para o Código Florestal? A proposta é mudar o código em primeiro lugar. O ambientalista não quer isso, lutou insanamente, mas é impossível. Não entendo essa radicalização de não querer rever uma lei de 1965. Uma lei da agricultura que era extrativa, de subsistência. Há 40 anos, o Brasil era importador de vários produtos. Hoje, só importamos trigo. É impossível não termos uma legislação atualizada. É preciso construir uma lei aplicável. O que não pode é o maior player mundial da agricultura, a maior expectativa de produção de alimentos, a esperança do mundo para alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050, o Brasil, ter dos seus 5 milhões de produtores rurais, 3,5 milhões em situação ambiental inadequada, passíveis de multa. Isso está errado. Luto por uma nova legislação que atenda o meio ambiente, a sociedade brasileira como um todo, e que traduza em lei aquilo que precisamos respeitar de fato. Monsanto do Brasil Ltda
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