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Gestão globalizada pode acabar com a fome no mundo

12/12/2009
Artigo: Gestão globalizada pode acabar com a fome no mundo Por Eduardo Pocetti* Em seu último relatório, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) estima que a segurança alimentar esteja seriamente ameaçada em 31 países. Intitulado ‘Perspectivas de Colheita e Situação Alimentícia’, o estudo da FAO alerta para a situação de extrema gravidade observada na África Oriental, onde 20 milhões de pessoas poderão sucumbir à fome provocada pela seca e pelos conflitos armados que varrem o continente. Mesmo correndo o risco de soar pouco original, sou obrigado a dizer: enfrentar o problema da fome no mundo exige vontade política. Por isso, um dos itens que a FAO deveria eleger como prioridade é a defesa agropecuária. Sem o controle eficiente de pragas e doenças nas plantações, o Brasil não ocuparia a posição de que dispõe hoje no cenário mundial. Na safra 2001/02, por exemplo, uma praga que ficou conhecida como a ferrugem da soja colocou em risco toneladas de grãos. A ação rápida do governo na avaliação e aprovação de produtos destinados ao controle da doença evitou que a colheita sofresse uma perda de 50%. Este é um bom exemplo de como o compartilhamento de expertise e de tecnologias entre os países poderia ser útil para dirimir a fome mundial. Também é necessário investir, em nível global e com a participação de instituições como o Banco Mundial e o BID, na recuperação de áreas degradadas (a devastação ambiental está no cerne de problemas como enchentes e secas), na industrialização rural (único caminho para expandir a produção) e na melhoria das infraestruturas: estradas e aeroportos mais ágeis e eficientes são essenciais para facilitar o escoamento da produção e evitar perdas. No tocante à recuperação ambiental, vale ressaltar que essa melhoria ecológica não pressupõe interromper o ritmo da produção. No Brasil, há exemplos bem-sucedidos de recuperação de pastos por meio do cultivo sustentável de lavoura. Após a colheita, as plantações cedem espaço à criação de gado, e assim sucessivamente. A mobilização mundial em prol do combate à fome requer gestão, seriedade e, para usar um termo com o qual estou familiarizado em virtude da minha atuação profissional, uma profunda e abrangente “revisão de processos”. A atual política de envio de ajuda – basicamente, “esmolas de comida” – causou, em muitas localidades, a asfixia de pequenos produtores, cujos plantios perderam valor em virtude da “concorrência” representada pelas rações distribuídas gratuitamente pela ONU. Desse modo, milhares de pessoas autônomas converteram-se em novas dependentes. Não se trata, é claro, de suspender a prestação de auxílio a quem precisa, mas de estudar como fazer isso com inteligência, de forma cirurgicamente planejada e sem fortalecer, ainda que involuntariamente, os burocratas corruptos e os governos totalitários. Sem esse rigor, estaremos condenando nações com excelente potencial a um estado de eterna mendicância. E, definitivamente, a comunidade internacional não tem este direito, por mais que os eventuais erros sejam pretensamente justificados pelas “boas intenções”. * Eduardo Pocetti é CEO da BDO no Brasil, quinta maior empresa dos segmentos de auditoria, advisory e tax.
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