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Arroz

03/12/2009
Dois anos após sua internacionalização, o grupo Camil atingiu a meta de entrar com força no mercado externo, por meio da uruguaia Saman. A empresa gaúcha transformou-se na maior indústria sul-americana de processamento e distribuição de arroz, já exporta a mais de 50 países e alcançou uma diversificação sem precedentes de suas vendas. Mas enfrenta problemas climáticos para expandir sua produção no Uruguai. "Saímos de uma seca intensa para enchentes em boa parte do país e bem na época do plantio", afirma o diretor-executivo da Saman, Renato Gastaud. Concentrada no mercado brasileiro, a Camil jamais conseguiu exportar mais de 10% da produção e queria aumentar essa fatia para dar mais equilíbrio aos negócios. A oportunidade surgiu em novembro de 2007, com a compra da Saman, por US$ 160 milhões. Herdou uma empresa que destinava 35% de suas vendas ao Brasil e tinha no Irã um dos principais clientes. No primeiro ano, uma má notícia. O país de Mamouhd Ahmadinejad, antes com um sistema estatal e centralizado de abastecimento, transferiu a responsabilidade pelas compras a pequenas empresas privadas. Elas passaram a buscar volumes menores e variedades aromáticas de fornecedores do Sudeste Asiático. Além disso, tinham dificuldade para integrar-se ao sistema financeiro. "A falta de garantia de pagamento limitou a nossa capacidade de venda." A Saman perdeu o Irã, mas abriu outras portas. Suas exportações ao Brasil baixaram para 8% do total em 2008 e 12% em 2009. O continente africano ganhou importância, o Peru já absorve 8% das exportações e a Turquia é um destino cada vez mais promissor. A grande diferença, no entanto, veio com a abertura de dois mercados estratégicos: União Europeia e Iraque, hoje compradores de mais da metade das exportações da Saman, que devem somar US$ 230 milhões neste ano e representam cerca de 90% do faturamento da Camil no Uruguai. O déficit de produção local impulsionou a presença da Saman no Iraque, por meio de tradings, e o país absorverá 27% de suas vendas em 2009. Na União Europeia, para onde destina hoje 25% da produção, a empresa se aproveitou da rejeição crescente dos consumidores locais ao arroz geneticamente modificado oriundo dos Estados Unidos. "Os compradores europeus começaram a buscar outras fontes e o Uruguai foi bastante ágil", afirma Gastaud, dividindo o mérito com o governo e as companhias do país. Espanha, Reino Unido, Alemanha e Portugal são os principais mercados. Para o executivo, a grande vantagem de diversificar as exportações é obter melhores preços, concentrando-se nos países que pagam melhor, e montar uma blindagem contra quedas de demanda em um ou outro mercado específico. Segundo ele, a fábrica uruguaia tinha dependência excessiva dos mercados brasileiro e do Oriente Médio. "No momento em que conseguimos reativar as vendas, pudemos dirigir a comercialização a quem remunera melhor, sem abandonar nenhuma região, mas concentrando as vendas ora em um lugar, ora em outro." Por exigir um padrão de qualidade mais elevado, os europeus pagam mais caro. E essa valorização chega em boa hora: a tonelada do arroz normalmente embarcado no porto de Montevidéu caiu pela metade desde o pico da cotação, às vésperas da quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008, quando encostou em US$ 1 mil. Agora tem ficado em torno de US$ 500 - ainda assim, acima da média de US$ 340 por tonelada registrada nos últimos 20 anos. "A crise tirou o componente especulativo do preço, mas sobrou um valor muito bom em termos históricos", avalia o diretor da Saman. A produção da empresa no Uruguai, que representa de 45% a 50% da safra de todo o país, é feita por 210 fornecedores exclusivos. A Saman financia os produtores e distribui fertilizantes e herbicidas. Gastaud diz que os arrozeiros uruguaios "estão preparados" para aumentar a produção atual, de quase 600 mil toneladas por safra, que está estagnada desde 2008 e não deverá crescer em 2010. A falta de crescimento é atribuída ao clima. O período ideal para o plantio é até o fim de novembro, mas o interior do Uruguai saiu de um extremo para outro: teve períodos de forte estiagem e agora sofre com inundações. "Só 75% da intenção de plantio foi realmente semeada", afirma o executivo. De acordo com ele, a colheita dos últimos dois anos se repetirá em 2010, mas a safra de 2011 poderá crescer 15%, "se não houver contratempos". "A questão climática tem barrado o aumento da produção." Das 600 mil toneladas de arroz com casca colhidas no Uruguai, apenas 5% ficam no reduzido mercado doméstico. A esses números somam-se de 600 mil a 700 mil toneladas produzidas anualmente pela Camil em território brasileiro. Gastaud diz que o objetivo fixado em 2007, com a compra da Saman, foi alcançado: hoje mais da metade da produção de todo o grupo Camil, em volume, é exportada.


Daniel Rittner, de Montevidéu
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