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A febre aftosa,

22/11/2009
O Brasil tem 203 milhões de bois e búfalos. A maioria desse rebanho está sendo vacinada contra a febre aftosa este mês. Muita gente, que ouve falar hoje das campanhas de vacinação contra a aftosa, não imagina o quanto de lutas está atrás delas. Saiba um pouco da luta para erradicar a doença do Brasil e tornar nosso produto mais competitivo no mercado externo. A febre aftosa, quem diria, já foi tema de um clássico de Hollywood. O filme é "O Indomado", de 1963, vencedor de três Oscars. Depois de comprar gado do México, o fazendeiro Homer vê todo o seu rebanho infectado pela aftosa. Paul Newman interpreta Hud, o rebelde filho do fazendeiro que aconselha o pai a vender os animais doentes. No Brasil, ainda hoje a aftosa é motivo de preocupação. Na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, os alunos, alguns já formados, estudam a doença com detalhes médicos e econômicos. No curso não há só estudantes da capital de São Paulo. Antônio Minervino, pro exemplo, vem de Belém do Pará e é formado há sete anos. “A gente tem um embasamento teórico de fotografias que já satisfaz a minha curiosidade profissional de um caso de aftosa. Eu acho que não precisaria ver um. É muito mais importante que o Brasil consiga erradicar a doença”, falou o veterinário. A inexperiência dos alunos com animais contaminados pela aftosa só comprova o que os números já mostravam. Nos anos 70 o Brasil registrou mais de 66 mil focos de aftosa. de lá para cá esses números só caíram. Nos anos 80, foram pouco mais de 25 mil focos. Nos anos 90, houve perto de 7,5 mil. de 2000 para cá foram apenas 132 focos de aftosa em todo o país. A vacina contra a aftosa, principal responsável pela queda no número de focos, pode ser encontrada em lojas. O veterinário responsável pela loja, Marcos Roberto Guimarães, falou sobre os cuidados com a medicação. “Nós temos duas câmeras frias com temperaturas externa e interna controladas. O monitoramento é feito por empresa de segurança. Há mais ou menos 700 mil doses de vacinas”, contou. O trabalho é fiscalizado pelo pessoal da Defesa Agropecuária. A visita do dia esteve a cargo do veterinário Acácio Rodrigues. “Na chegada da vacina nós temos que verificar a documentação e abrir a caixa quando lacrada verificando que tem a quantidade suficiente de gelo para manter a temperatura de 2º a 8º graus. Depois que o lote foi liberado para a comercialização pelo Ministério, a vacina vai para o centro de triagem onde é colocado o selo holográfico para controle de qualidade e evitar a falsificação”, explicou. O pecuarista brasileiro gasta de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões por ano só com a compra da vacina. Segundo a Abiec, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, é um ótimo investimento. “Perder um bilhão de dólares de exportação por causa da febre aftosa é um número até modesto. O valor desse prejuízo é milhares de vezes maior do que o investimento na vacinação maciça do gado brasileiro“, falou Roberto Gianetti da Fonseca. A vacina é muito importante, mas de nada adianta se os criadores não usarem o produto. Na região de São José do Rio Preto, em São Paulo, há mais de 500 mil cabeças de gado. Era dia de vacinação no sítio do seu Moacir Bonatto. A criação dele tem apenas 30 cabeças, mas a propriedade faz parte da história da família. “Do meu avô passou para o meu pai, do meu pai para mim e a gente está aí na luta”, disse. A quarta geração também já pega no batente. O Amauri, filho do seu Moacir, ferve a seringa para a aplicação da vacina. “Estando limpo a gente sabe que pode ajudar mais no manejo e não deixar sequela”, justificou. E a quinta geração, do Fabrício, fica de olho na tarefa que, daqui a alguns anos, pode ser dele. “Tem que dar a vacina senão ela fica doente”, explicou. Aos cinco anos, Fabrício está mais sabido do que muito criador. Na hora de vacinar, o seu Moacir faz malabarismos. Apesar de os animais serem mansos, o tronco improvisado não facilita muito o trabalho. Ele, que a vida toda cuidou do gado, já viu os efeitos da aftosa e não quer rever. “Nós perdemos há muitos anos. Bezerro novo mamava e a vaca estava com a febre. O bezerro mamava e em poucas horas morria. Hoje, você vai comprar uma vaca de leite e custa no mínimo dois mil reais. Perder uma vaca dessas por aftosa é um prejuízo muito grande”, avaliou. O valor dos animais em outra fazenda é um pouco diferente. Luiz Fernando Caldeira é cirurgião plástico e virou criador quase por acaso. “Eu estava num leilão com um grupo de amigos. Esse grupo me incentivou oferecendo uma prenhez em troca de uma cirurgia que eu faria”, recordou. Hoje, ele tem 180 animais. Logo cedo, os peões reúnem o gado para a vacinação. O indicado é fazer o serviço nas horas mais frescas do dia porque os animais ficam menos estressados. Mas quando começa a aplicação, adeus tranqulidade. Nem bicho bravo escapa da agulha. Vai para o tronco. Bem contido, fica fácil vacinar. “Tem que haver conscientização para que haja um extermínio da doença. Se não houver conscientização, não vai conseguir exterminar”, alertou Caldeira.
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