Argentina: Defendem o uso do herbicida glifosato para a produção
06/05/2010
Por Fernando Bertello, La Nación
Se a soja desperta paixões frente à opinião pública, porque uns aplaudem seu exponencial crescimento nos últimos 15 anos, com uma semeadura que foi duplicada, e outros criticam seu avanço e junto a ela existe um produto que, pelo menos quando seu nome é pronunciado, também provoca reações: o glifosato voltou a estar em cena recentemente quando uma sentença de um juiz de Santa Fe proibiu a sua aplicação em zonas próximas ao povoado de San Jorge, frente a denúncias de supostas enfermidades da saúde humana provocadas por este produto.
O que é o glifosato, para que é usado, desde quando se recorre a ele na Argentina e no mundo, que relação tem com a soja e outros cultivos, que mudanças introduziu para a agricultura e como se classifica a nível toxicológico nas organizações internacionais são algumas das perguntas que vale a pena responder.
O glifosato é um princípio ativo de um herbicida que atua bloqueando a atividade de uma enzima sem a qual os vegetais morrem. Seu objetivo é o controle de ervas que competem ou possas chegar a competir com os cultivos por recursos vitais como a luz, a água e os nutrientes.
O glifosato é um ácido que se formula como um sal para que seja solúvel em água. Basicamente, as formulações comerciais constam de um sal de glifosato e um tensoativo (se refere a algo que reduz a tensão entre as superfícies de contato), que permite ao glifosato penetrar dentro das ervas a serem tratadas e iniciar sua translocação até os pontos de crescimento onde atua, explicou Pablo Grosso, diretor de Gestão Tecnológica da Câmara de Sanidade Agropecuária e Fertilizantes (Casafe), que une as empresas provedoras de agroquímicos.
Trata-se de um produto que tem 30 anos de vigência e é utilizado em pelo menos 140 países. A Argentina representa 8,5% do consumo total deste herbicida. Começou a ser utilizado em 1974, ou seja, no mundo há uma experiência de mais de 35 anos de uso, disse Grosso. Segundo o técnico da Casafe, é o produto fitossanitário (quer dizer, de proteção dos cultivos) mais usado no mundo. São utilizados aproximadamente 2 bilhões de litros e a Argentina usa 8,5% desse total, com 170 milhões de litros, completou.
O glifosato não é exclusivo de um só país, muito menos da soja. É empregado para tantos outros cultivos a campo, atividades pecuárias e em economias regionais onde também o objetivo é controlar as ervas daninhas.
Revolução técnica
No caso da soja, a combinação com o glifosato ocorreu num contexto ainda mais amplo. Foi na chegada da soja resistente ao glifosato, em 1996, que deu força ao produto e fez ainda mais sentido no controle de ervas. Uma soja resistente a este herbicida foi um avanço significativo para poder dar um passo a mais no controle de ervas daninhas difíceis e incorporar mais hectares na agricultura.
Mas, além da chegada da soja resistente ao herbicida glifosato, a soja tomou força por outro fator: o plantio direto, uma tecnologia que permitiu que se deixasse de revolver o solo para semear, permitindo maior eficiência no seu uso. Hoje são 20 dos 30 milhões de hectares semeados no país com plantio direto.
A combinação do herbicida glifosato, soja transgênica resistente ao glifosato e plantio direto teve um efeito sinérgico tão grande que estabeleceu um novo paradigma único no mundo, que cobre milhões de hectares. Nem nos Estados Unidos, nem no Brasil (primeiro e segundo produtores mundiais de soja; a Argentina ocupa o terceiro lugar) existe essa quantidade de terras agrícolas com plantio direto contínuo, onde se cultivam soja transgênica e se usa o glifosato para controle de ervas daninhas, afirmou Luis Salado Navarro, consultor. Outro benefício concreto que tiveram os produtores com esta tecnologia foi a redução de custos de produção por hectare, que baixou sensivelmente.
Gustavo Duarte, outro consultor, também não tem dúvidas sobre o que representa a agricultura com o glifosato. Na agricultura com o glifosato se reduziu a perda de solo, único fator em discussão quando se fala de sustentabilidade da produção, já que mediante a adoção do plantio direto, foram minimizadas as perdas geradas pela lavração. Além disso, há um menor gasto de energia fóssil direta, com menos litros de diesel queimado na atmosfera por hectare, reduzindo o efeito estufa, comentou.
Antes da chegada do glifosato, o controle de ervas daninhas requeira a utilização de múltiplos produtos com nível de risco de contaminação, em alguns casos, muito superiores aos que poderia conduzir este herbicida, disse Martín Díaz-Zorita, outro especialista.
Toxicidade menor
Neste contexto, a pergunta sobre a toxicidade ou não do glifosato se impõe. Segundo Guillermo Cal, diretor executivo da Casafe, a classificação toxicológica deste produto está regida segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação).
É uma escala que consideram os produtos como extremamente ou muito perigosos, moderadamente perigosos, ligeiramente perigosos ou produtos que normalmente não oferecem perigo. Segundo afirmam no setor, o glifosato pertence a esta categoria. A FAO e a OMS o definem como produto que normalmente não oferece perigo; não é uma classificação arbitrária, está fundamentada sobre parâmetros muito restritos, afirmou Cal.
Na Argentina, o glifosato se encontra registrado no Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentária (Senasa). Pertence, segundo a resolução 350/99 do Senasa, à categoria de produtos fitossanitários de menor risco toxicológico (classe IV ou faixa verde), em concordância com outras organizações internacionais que o avaliaram, como a FAO e a OMS, disse Grosso. Este especialista completou: É menos tóxico em muitos casos, que os produtos que se usam para combater a dengue, as pulgas, piolhos, baratas, etc.
Chaves
Objetivos: o glifosato é um herbicida cujo objetivo é o controle de ervas daninhas. É empregado para eliminar aquelas que competem ou poderão competir com os cultivos. Contribui também para controlar as ervas na época de pousio, quer dizer, os meses que os cultivos não cobrem o solo. Além da soja, é empregado em outros cultivos a campo e economias regionais.
Uso global: a nível mundial são 140 países que o utilizam. O consumo global deste produto fica em torno de 2 bilhões de litros e a Argentina representa 8,5% desse total. Países como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França e a Alemanha somam mais de 800 registros de formulações comerciais que foram avaliadas toxicologicamente para sua aplicação. É utilizado desde 1974.
Toxicidade: Segundo a Câmara Argentina de Sanidade Agropecuária e Fertilizantes (Casafe), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO) o classificam como produto que normalmente não oferece perigo. Pertence a uma categoria de produtos conhecida como faixa verde, ou menor risco toxicológico.
La Nacion - Tradução Portal Agrolink