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23/10/2009
É admirável a capacidade que têm os produtores de soja do Estado de Mato Grosso em continuar plantando. Mesmo quando tudo concorre para que reduzam a área plantada, lá estão eles, com a mesma expectativa de uma grande colheita. Em maio de 2007, escrevi nesta mesma coluna um artigo com o título "Pelo amor de Deus não plantem!". As expectativas de renda naquela época eram minguadas, sendo que o mesmo fenômeno está para acontecer na safra 2009/2010. Todos os cenários analisados demonstram que Mato Grosso terá uma grande safra de soja, passando dos 18 milhões de toneladas, praticamente com a mesma área plantada na safra passada. Isto impressiona. O problema é que os Estados Unidos produzirão também uma grande safra de soja, algo em torno de 10% a mais em relação à passada. Apenas este ingrediente é suficiente para comprometer a renda rural dos sojicultores, entretanto, existem outros, como as condições e falta de rodovias, principalmente federais, custos de produção, carga tributária, etc. Segundo a Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), os custos de produção para uma produtividade de 3 mil kg por hectare, no município de Primavera do Leste, serão de R$ 1.847,01. Isto implica dizer que o preço médio para empatar a produção com seus custos terá que ser de R$ 36,94. E as dívidas de safras passadas? Nem pensar! Afinal, até a próxima safra a única renda para o sojicultor será a da 2ª safra de milho, que será responsável pela manutenção das famílias e dos primeiros custos da outra safra. A Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) tem importante estudo a respeito dessa engenharia de financiamento de safras de soja. Salta aos olhos de analistas a origem dos recursos. Na safra passada os recursos próprios giravam em torno de 40% dos custos totais, tanto no Estado do Paraná como em Mato Grosso. Na próxima safra este percentual sobe para 42%. Claro que estes recursos considerados próprios não representam uma poupança dos sojicultores. Parte deve vir da 2ª safra de milho e o resto deve ser de papagaios, crédito em postos de gasolina e por aí vai. De alguns poucos, deve vir uma parcela de poupança. Outras comparações se fazem necessárias. Uma delas é o limite do financiamento para cada produtor. Atualmente apenas R$ 450 mil para qualquer região do Brasil. Assim, com este crédito os sojicultores do Paraná financiam totalmente sua safra, enquanto que os mesmos recursos no Estado de Mato Grosso financiam pouco mais de 20% de cada safra de soja. Desta forma, além dos sojicultores daquele Estado usufruir de melhores preços por ocasião da comercialização da produção têm custos mais reduzidos no financiamento da produção. Logística? Não há como comparar. Assim, os recursos necessários para financiar o custeio da safra de soja do Estado ficam por conta das tradings, indústria de fertilizantes e defensivos e bancos, com juros elevadíssimos por se tratar de recursos chamados "livres" que, na verdade aprisionam os produtores a determinadas empresas desde o plantio até a comercialização de toda a safra. Devemos acrescentar a tudo isto a queda livre do dólar diante do real. Quando da comercialização da safra, os preços que serão recebidos pelos produtores contribuirão para reduzir as receitas dessa importante oleaginosa. Claro que isto é ruim para todo mundo. Todos os municípios produtores de soja terão suas economias atingidas, com sérios transtornos em seus já combalidos orçamentos. Como resolver esta questão, que na verdade se caracteriza como um problema cíclico? Sem medo de errar podemos afirmar que tão somente a harmonização de toda a cadeia poderá devolver um equilíbrio entre seus diversos elos. Por que isto? Historicamente os preços dos insumos são formados diante da possibilidade de renda dos sojicultores. Isto está acontecendo nesta safra, quando registramos importante redução de preços, especialmente de fertilizantes. Por que não manter estes preços? Outra alternativa é uma drástica redução nos volumes de produção. Assim, além de todos os elos da cadeia, teremos os governos interessados em retomar a produção de soja no Brasil. Eu acredito que esta alternativa é a que surtirá maior efeito em curto prazo. Vamos pagar para ver? Amado Oliveira Filho é economista, especialista em Direito Ambiental e Consultor da Famato.


Amado Oliveira Filho
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