O primeiro foco de ferrugem asiática da soja no Paraná,
03/10/2009
03/10 - 10:54
O primeiro foco de ferrugem asiática da soja no Paraná, safra 2009/2010, foi registrado nesta semana em planta voluntária ou guaxa (que germina a partir de grãos perdidos na colheita) na margem da PR-445, próximo ao trevo entre Londrina e Cambé, sentido Sertanópolis. Como o esporo da doença é muito leve e se dissipa facilmente com o vento, os especialistas alertam para o risco de a ferrugem se desenvolver mais cedo nesta safra. A preocupação é que existe a previsão de chuva abundante até dezembro, o que favorece a evolução da doença.
O foco foi identificado pelo engenheiro agrônomo José Tadashi Yorinori, consultor da área de defesa fitossanitária e pesquisador aposentado da Embrapa, que comunicou o Consórcio Antiferrugem da instituição - ele também é membro do Consórcio. ''A orientação é que os produtores fiquem atentos e façam o monitoramento da lavoura, principalmente diante da previsão de chuva para esta safra'', diz a pesquisadora Cláudia Godoy, coordenadora técnica do Consórcio Antiferrugem. Ela informa que existem relatos, não confirmados até ontem, de incidência de ferrugem em soja guaxa em uma outra região do Estado. Além do Paraná, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás também registraram a presença da doença.
Como parte dos produtores deve antecipar o plantio de soja neste ano - para colher mais cedo e já entrar com o milho safrinha -, a pressão da ferrugem pode aumentar nas lavouras semeadas mais tarde. Isso pode desencadear a necessidade de mais pulverizações, gerando, entre outros problemas, maior custo para o produtor. ''A tendência é que não haja perda pela ferrugrem, já que o controle químico é bastante eficiente. O que não pode é haver descuido desse controle'', observa Cláudia.
Ela esclarece, no entanto, que não é recomendada a aplicação preventiva de agrotóxico durante o período vegetativo da planta, a não ser que a ferrugem seja detectada na lavoura. ''Depois do florescimento, se a doença for identificada na região, deve ser feita a pulverização nas lavouras'', diz.
Preocupação
O vazio sanitário (período sem cultivo de soja) no Paraná foi encerrado no dia 15 de setembro. A medida busca reduzir a quantidade de esporos da ferrugem no ambiente, inibindo o ataque precoce à soja durante a safra. Mesmo assim, as sementes derrubadas durante o transporte oferecem o risco da doença. José Tadashi, que identificou o foco na região de Londrina, entende que deve haver mais comprometimento dos setores ligados à agricultura no Estado para resolver este problema.
''O controle da ferrugem no Estado pode falhar devido a focos antecipados'', alerta. O consultor informa que entre 2002 e 2009 o Brasil perdeu 34,3 milhões de toneladas de soja por causa da ferrugem. ''Somando esse valor ao custo do controle da doença e à perda de arrecadação dos impostos que o governo cobra sobre a soja comercializada temos aí US$ 15,2 bilhões de prejuízo'', adverte Tadashi, com base em dados experimentais de pesquisa e informações obtidas junto a cooperativas.
Por ser estudioso da áerea e muito curioso, Tadashi conta que percebeu ''umas 30 plantas em estado vegetativo'' na beira da rodovia e resolveu checar. Coletou algumas folhas e identificou a ferrugem no terço inferior. ''O fungo está no ar esperando o desenvolvimento dos primeiros plantios. Ele se espalha facilmente com o vento e, havendo condições favoráveis, multiplica-se em grande quantidade'', contextualiza. Diante disso, ele reforça que o produtor não deve deixar de fazer o monitoramento diário da lavoura e ficar atento às informações divulgadas sobre a disseminação da ferrugem.
O consultor alerta que o problema em soja guaxa pode estar ocorrendo em outras rotas de transporte de grãos do Estado. ''O derrubamento de grãos pelo caminho é comum. O ideal seria que todo contratante de frete exigisse caminhão adequado para evitar a situação'', diz. Tadashi lembra que no Rio Grande do Sul passou a vigorar uma exigência para a vedação dos veículos, porém, com objetivo de evitar as perdas no transporte.
O engenheiro agrônomo Paulo Eduardo Félix, da Secretaria do Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab), regional de Londrina, reconhece que a soja gerada em beira de estrada ''é um problema real'', mas diz que a legislação não é clara quanto à definição da responsabilidade sobre isto. Ele refere-se à resolução 120/2007, que trata do programa estadual de controle da ferrugem da soja, que implementou o vazio sanitário. ''Neste período trabalhamos com bastante eficiência em áreas agrícolas, colhendo amostras de soja que nasciam e levando para análise. Mas em áreas de rodovia fica difícil detectar'', afirma.