China assumiu isoladamente o posto de principal cliente mato-grossense
15/04/2013
China desponta como principal cliente do MT
De 2005 a 2012, o país acumula importações de US$ 16,410 bilhões em produtos do estado
Há 8 anos a China assumiu isoladamente o posto de principal cliente mato-grossense, acumulando importações de US$ 16,410 bilhões em produtos do Estado nesse período. De 2005 a 2012, as compras chinesas cresceram 462%, saltando de US$ 765,419 milhões para US$ 4,301 bilhões. O montante pago por Mato Grosso pelas mercadorias orientais também expandiu 2.460% nesse intervalo, chegando a US$ 86,664 milhões no fim do ano passado, conforme dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Entender o movimento crescente nessa relação comercial fica fácil conhecendo os números. A China já ocupa quase 100% de seu território agricultável e por isso depende das importações de commodities para sustentar sua população de mais de 1 bilhão de pessoas. Aí está um bom potencial para a agricultura do Estado se lançar internacionalmente, afirma Lincoln Fracari, diretor comercial da China Link Trading, que exportou cerca de US$ 150 mil para o Mato Grosso e pretende aumentar em 50% esse montante em 2013. No Estado a empresa tem clientes que importam produtos para fornecimento de energia solar, informática e eletrônicos.
Segundo Fracari, os chineses têm procurado regiões no Brasil de crescimento mais promissor e redução fiscal para o recebimento de seus investimentos, distanciando um pouco dos destinos mais óbvios como São Paulo e Rio de Janeiro. Existem tantas empresas chinesas principalmente na área de tecnologia já dispostas a abrir plantas produtivas no Brasil. Mato Grosso conta com um ambiente político e econômico estável para a propagação das empresas chinesas, avalia.
Prova disso é o investimento de R$ 400 milhões na construção da 1ª fábrica no Brasil da Chery, pertencente ao um grupo que detém 80% da frota náutica chinesa e passou a investir no setor automobilístico, conta o gerente de vendas da concessionária em Cuiabá, Cláudio José dos Santos. Segundo ele, a expectativa de crescimento até 2014 é de 200% graças à nacionalização da marca, que garantirá a redução do custo da frota de veículos, que hoje é montada inteiramente na China. Santos destaca que a fábrica, que ficará pronta no ano que vem, está sendo instalada sem a ajuda brasileira do BNDES. Isso tudo devido à aposta chinesa no mercado brasileiro.
Potencial identificado por eles, mas que passa desapercebido pelos brasileiros como um todo, na avaliação da coordenadora do Centro Internacional de Negócios de Mato Grosso (CIN/MT), entidade a associada ao Conselho Empresarial Brasil-China e que faz parte do Sistema Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Gabriela Fontes, que aponta a dificuldade dos empresários em identificar os nichos de mercado existentes naquele país. A gente está vendendo ou sendo comprado pela China? O vender vem da produção industrial. Tem que entender o que ele quer comprar e a gente possa produzir para ele. Evidente que a gente não vai fazer eletroeletrônico, mas pode oferecer o que eles não têm lá, alimento industrializado ou não. Gabriela cita a oportunidade que surge na exportação de queijo mussarela considerando o crescente consumo de pizza pelos jovens chineses.
Para Fracari, a promoção comercial de Mato Grosso e de outras regiões do Brasil está mais ativa, o que contribuiu com o crescimento da relação entre os 2 lados. Mas ainda acredito que essa divulgação poderia ser muito mais agressiva, pois há eventos específicos em todo o território chinês que estados como o Mato Grosso poderiam se beneficiar.
A Prime Importação e Exportação recebeu em março um grupo de chineses que veio conhecer o potencial do Estado. Hoje a compra coletiva feita por cooperativas de agricultura e agroindústria tem se destacado no trabalho de importação feito pela empresa. A demanda é muito grande em relação à soja, mas outras oportunidades estão surgindo, afirma o empresário Alan Borges, ao ressaltar o interesse chinês pela carne de frango matogrossense e pela mel de abelha. Toda medicina daquele país é baseada em chás e alimentos naturais. O mel é um produto supervalorizado lá e a gente não explora esse potencial.
Enquanto esses mercados não são explorados no Brasil, a China se planeja. Para o economista Vitor Galesso, que presta serviço de despacho e tramitação logística de cargas através da Universo Serviços Aduaneiros, existe interesse chinês também na compra de terras no Estado para a produção de alimentos para a sua população, o que explicaria a proposta que surgiu de construção feita por eles da ferrovia estadual. Mas não é tão simples porque não se encaixa com o padrão de concessão chinês. A possibilidade é remota de conseguirem se adaptar a esse modelo, em que o governo (brasileiro) autoriza o investimento. Ele constrói, mas não é dono.
Tabus - A presença da alta tecnologia em indústrias chinesas impactaram nos resultados da importação. Superando antigas concepções, a qualidade dos produtos chineses se uniu ao baixo custo na lista das vantagens desse fornecedor, avalia Gabriela Fontes, destacando a compra crescente de diversas máquinas para a área de infraestrutura da construção civil. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Construção Pesada de Mato Grosso (Sincop/MT), José Alexandre Schutze, o custo ainda é a maior vantagem dos equipamentos chineses, que chegam mais baratos ao país do que as produtos nacionais. Além disso, conforme Schutze, o fato de as máquinas serem importadas não dificulta a manutenção e a troca de peças.
Gazeta Digital
Autor: Evania Costa