RS quebra paradigma na produção de cana-de-açúcar
Para atender a aptidão agrícola do Estado gaúcho ao cultivo da cana-de-açúcar, a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) e a Embrapa estão apostando em nove novas variedades indicadas ao Rio Grande do Sul. Após, cinco anos de experimentação a campo, nessa terça-feira, dia 6, as instituições apresentaram o lançamento de cultivares, que vem confirmar a possibilidade de cultivo. O Estado que não tinha variedades testadas, agora, possui indicações de materiais precoces e de ciclo médio/tardio, explicou o pesquisador Sergio Delmar dos Anjos e Silva. A atividade fez parte da programação do Simpósio Estadual da Agroenergia e da IV Reunião Técnica de Agroenergia-RS, que acontece até esta quinta-feira(8/11), no Centro de Conferências da AMRIGS, em Porto Alegre/RS.
Para o professor da UFPR, Edelclaiton Daros, o lançamento destes materiais foi possível pela excelente atuação de diversas instituições públicas e privadas em uma rede de pesquisa e desenvolvimento para a agroenergia no RS. Levamos seis anos na articulação e testes, mas pensamos primeiro no Estado e nos agricultores, reiterou. Segundo ele, o papel das instituições ficou em segundo plano. Mas, acreditamos na capacidade técnica delas, e hoje, assinamos um convênio com a Embrapa Clima Temperado e lançamos de imediato o produto, as próprias cultivares, destacou.
Para o diretor-executivo de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Waldyr Stumpf Jr, a assinatura do convênio e a indicação de cultivares de cana representam um marco simbólico para a qualificação da produção de etanol no Estado gaúcho. Temos uma rede de excelência em agroenergia no Sul do Brasil e que tem âncora em políticas públicas do Estado, destacou o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, ao identificar como o grande diferencial.
As variedades RB são voltadas à produção de álcool e durante os testes mostraram que possuem média e alta produtividade agrícola, condições regulares em situações de estresse por frio, boa sanidade vegetal, colheita em início e meio de safra com elevada riqueza e crescimento rápido. Elas apresentaram excelente produtividade em qualidade e riqueza de colmo e de açúcar, considerou. O pesquisador mostrou ainda um comparativo de crescimento de produção entre as cultivares já conhecidas uma média de 34 toneladas/há- e as testadas, que demonstraram uma produção média de 96 toneladas/há nos três anos de experimentação.
Durante os testes foram realizadas 22 colheitas, com três cortes, entre as safras de 2010 a 2012. Os municípios gaúchos que participaram deste processo de pesquisa são: Santa Rosa, Erechim, São Luiz Gonzaga, Jaguari, São Borja, Porto Xavier, Salto do Jacuí, Santa Maria, Pelotas, Viamão e Caxias do Sul.
As indicações das variedades lançadas na abertura do Simpósio Estadual de Agroenergia e da IV Reunião Técnica de Agroenergia servem de parâmetros na experimentação agrícola para futuros materiais, ou clones, que já estão ou que serão testados. Temos agora uma referência. O material que virá das universidades para serem testadas no Rio Grande do Sul tem que ser superiores em produtividade e riqueza a essas que estão sendo indicadas, disse o professor Edelclaiton.
Segundo Sergio dos Anjos, o Estado tem uma produção de 37 mil há para cana-de-açúcar, com a confirmação realizada através do lançamento destas indicações de cultivares para o Rio Grande do Sul é possível que tenhamos dentro de cinco a 10 anos, cerca de 300 mil há dedicados à cultura. Desta forma, os gaúchos passam a ser foco de atenção para inserir-se no mercado do etanol, visto que as condições climáticas foram enfatizadas como não sendo entraves para o cultivo. Se pensávamos que as geadas seriam um condicionante de impedimento para implementação da cultura, investigamos cultivares tolerantes ao frio e ao déficit hídrico e concluímos, entre outras condições, que o clima do Rio Grande do Sul é, sim, favorável, comentou. Ele explicou que todos os meses acontecem chuvas, facilitando as questões de déficit hídrico. E outro elemento importante é a apresentação de períodos longos de horas luz. A luz é o fator principal ao favorecer a conversão de biomassa das plantas e permitir que as variedades tenham uma boa tolerância às condições climáticas, disse.
Quanto à receptividade pelos agricultores, o professor Edelclaiton identifica a segurança o item de maior relevância pelo segmento. Se o agricultor estiver seguro com a forma de plantio, o sistema de colheita, a garantia de preço do produto e um espaço promissor de mercado, ele sente-se confiante, considerou. Já o incremento industrial inspira fortalecimento regional. Para ele, as indústrias do Estado é que vão ganhar mais opções de inserção em agroenergia. As indústrias do centro do país não vão ocupar o Estado, eles possuem um paradigma de que a cana-de-açúcar não se desenvolve no Rio Grande do Sul, garantiu. A partir do lançamento destas variedades, as instituições acreditam na possibilidade de instalação de três a quatro novas indústrias locais no Estado. O que o Estado necessita são políticas públicas de incentivo à produção e modelos de produção diferenciados, voltados às pequenas propriedades, enfatizou o professor Edelclaiton.
O pesquisador Sergio dos Anjos prevê para o futuro próximo o aumento da produção alcoolquímica para exportação, além de um zoneamento e uma recomendação técnica ao cultivo de meio e final de safra da cana-de-açúcar. Logo depois do lançamento, já vamos organizar a seleção de 15 mil plantas nas regiões testadas no Estado, adiantou o professor Edelclaiton.
O convênio
O lançamento das cultivares foi fortalecido pela assinatura de convênio de cooperação técnica firmado entre a Ridesa, representada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Embrapa, através da unidade de pesquisa Clima Temperado, de Pelotas/RS. A ação estabelece a formalização de uma parceria já existente, mas que define realização de pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias agronômicas e industriais da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, desenvolvimento de novos insumos e formação de recursos humanos.
A assinatura do convênio foi feita pelo professor Edelclaiton Daros, representando o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho e o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon. O ato foi apadrinhado pelas assinaturas do diretor-executivo de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Waldyr Stumpf Jr e o diretor-presidente da Emater/RS, Lino de David.
Mais informações sobre a programação podem ser encontradas no endereço eletrônico.
Emater - RS
Autor: Cristiane Betemps