Alta da soja e do milho
03/08/2012
Quebra de safra nos Estados Unidos alavanca os preços mundiais das duas culturas
A escalada nos preços da soja e do milho nos mercados nacional e internacional, provocada principalmente pela quebra de safra das duas culturas nos Estados Unidos em razão da seca que atinge o meio oeste do país, está causando reflexos em várias áreas da economia brasileira, desde o agronegócio até a indústria e pode afetar até mesmo a inflação brasileira. A análise foi feita por especialistas em mercado e em economia ao Agrodebate.
O consultor de mercado João Pedro Cuthi Dias, diz que no caso do milho, a previsão inicial da safra norte-americana girava em torno das 378 milhões de toneladas do grão, mas com a seca, caiu para algo em torno dos 300 milhões de toneladas. "É uma redução expressiva, que deixou o mercado muito nervoso, porque pode fazer com que a demanda pelo produto seja maior do que a oferta", explica.
Com esse cenário, ele diz que mesmo com uma segunda safra da cultura sendo considerada recorde no Brasil que a tendência do preço do grão é se manter em alta, com o preço do buschel (unidade equivalente a 25,40 quilos) sendo comercializado na Bolsa de Chicago, um dos principais termômetros do mercado mundial, no patamar de US$ 8.
No caso da soja, o presidente da Associação dos Produtores da cultura em Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), Almir Dalpasquale, já alertava ao Agrodebate há pouco menos de um mês que a tendência do mercado era de que os preços continuassem em alta. Além do efeito EUA, ele citava uma série de outros fatores para justificar o movimento de alta da commoditie, como a migração de parte dos produtores norte-americanos para o milho, a quebra de safra de 11 a 12 milhões de toneladas na América do Sul e o fato dos estoques mundiais já estarem baixos e a demanda elevada.
Dalpasquale lembrou que no início de julho do ano passado, o valor da saca estava sendo comercializada em Mato Grosso do Sul no patamar de R$ 40. Em Dourados (MS), nessa quinta-feira (2 de agosto), o valor da saca atingiu os R$ 80, o que representa uma valorização de 100%, do grão. Já em Cuiabá, capital de Mato Grosso, maior produtor do País, a cotação atingiu os R$ 74,50.
Safra 2012/2013
O consultor de mercado João Pedro Cuthi Dias, diz que em decorrência desse panorama no caso da soja, o mercado já se volta para a próxima safra da cultura. "Fica a expectativa para que a recomposição dos estoques mundiais seja feita a partir da produção da América do Sul, com isso já se projeta aumentos de produção no Brasil, que deve saltar de 65 milhões de toneladas para 80 milhões de toneladas, na Argentina, que deve chegar aos 55 milhões de toneladas e também no Paraguai, que são os grandes produtores do continente", comenta.
Dias alerta, entretanto, que esse aumento de demanda pode levar ao encarecimento dos insumos de produção, como adubos e defensivos agrícolas, e revela preocupação com a qualidade das sementes que o produtor terá a disposição. "Vai ser muito importante termos sementes de boa qualidade para que sejam atingidos os níveis de produção previstos", analisa.
Ele lembra também que a alta da soja e do milho já provoca efeitos imediatos em outras cadeias produtivas que tem essas commodities como matérias-primas, como, por exemplo, a suinocultura e a avicultura, que utilizam rações produzidas com farelo de soja e de milho. "As atividades estão enfrentando um momento muito difícil, porque os custos de produção aumentaram, com a elevação da soja e do milho e não está havendo esse repasse, com isso, em alguns estados como o Mato Grosso, por exemplo, deve haver a redução do número de matrizes de suínos, e em outros, como alguns do Sul do País, produtores já falam até em deixar a atividade em razão dos prejuízos que estão sofrendo", explica.
Inflação
O coordenador do Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade Anhanguera-Uniderp (Nepes), Celso Correia de Souza, diz que a alta dos preços das commodities pode afetar, em médio prazo, a inflação, atingindo primeiramente o atacado e depois o consumidor final, no varejo.
"A recente alta nos preços das commodities começará a refletir nos dados de inflação em, aproximadamente, três meses. É o tempo necessário para o setor varejista repassar os altos preços que vem acontecendo no atacado. No acumulado do ano, a soja teve alta de 20%, o milho de 31% e o trigo de 43%. O quanto disso será repassado ao consumidor é uma equação difícil de resolver.
Os alimentos que foram considerados como um fator de alívio para a inflação até meados do primeiro julho podem passar a ser um risco para o segundo semestre", conclui.
Agrodebate..
Autor: Anderson Viegas