Agroecologia transforma vida de agricultor familiar em Jussara/BA
31/01/2012
Agroecologia? É vida e saúde, responde de imediato o agricultor Aderlan Alves Brasileiro. Em meio a sua roça, cercado por fileiras e canteiros de tomate, cebola, coentro, pimentão, alface, repolho, cenoura e outras tantas hortaliças e olerícolas, é fácil perceber a vida saudável brotando da terra. O agricultor, do povoado de Larga do Elói, no município de Jussara, é referência em toda a região na produção de alimentos orgânicos. Há nove anos ele apostou na agroecologia e hoje colhe os benefícios nas finanças e na saúde de toda sua família.
A agroecologia é uma proposta de cultivo para agricultura familiar que defende técnicas e formas de plantio em harmonia com o meio ambiente. Com uma abordagem que agrega saberes populares e tradicionais, a agroecologia permite a recuperação da fertilidade dos solos sem o uso de fertilizantes minerais, assim como o cultivo sem o uso de agrotóxicos. Acima de tudo, a agroecologia prega uma agricultura sustentável, assegurando a preservação do solo, dos recursos hídricos, dos ecossistemas naturais, e, por consequência, garantindo a segurança alimentar da unidade familiar rural.
Aderlan, sua esposa, Luciene, e seus sete filhos, são exemplos de como a adoção do cultivo de orgânicos promove a melhoria da qualidade de vida para as famílias rurais. Quando voltou de São Paulo, há nove anos, o agricultor resolveu investir na agroecologia, pensando em agregar valor à produção. Nos três primeiros anos, sentiu um progresso tímido. Foi somente depois de fazer um curso, através da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A (EBDA), que o cultivo dos produtos orgânicos de Aderlan deslanchou. Estava precisando de orientação; o curso da EBDA foi uma luz, foi quando aprendi a importância da agroecologia e como podia fazer as coisas darem certo, afirma o agricultor.
A técnica da EBDA, Stelina Vasconcelos, que acompanha o trabalho com Aderlan, explica que existem muitos agricultores que buscam a agricultura orgânica porque já perceberam os malefícios causados pelo uso de agrotóxicos. A agroecologia, além de ser uma alternativa para a produção de alimentos mais saudáveis, é também uma saída para o agricultor não ser explorado, pois ele assume um papel fundamental na cadeia produtiva, administrando ele mesmo a comercialização dos seus produtos, não dependendo do atravessador para o escoamento de sua produção, afirma a técnica.
Para Aderlan Brasileiro, o cultivo dos alimentos convencionais chega a ser irracional. Quando você usa agrotóxico, a sua saúde, a da sua família e a de quem vai consumir o alimento ficam prejudicadas. Além disso, a terra se desgasta mais fácil, você gasta muito mais e vende o produto por menos, não tem lógica, explica o agricultor. Nunca falta alimento na minha casa e eu não gasto nada fazendo feira. Chego a vender meus produtos por cerca de 50% a mais do que os convencionais, mas quando agricultores me procuram, vendo por um preço bem mais em conta, para que todos tenham acesso a um alimento de qualidade, completa Brasileiro.
Atualmente, Aderlan está inserido no projeto de pesquisa-ação realizado pelo Pacto Federativo estabelecido entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, através da EBDA, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). O agricultor desempenha o papel de Pesquisador Local, difundindo os saberes agroecológicos na comunidade e cedendo a sua propriedade para ser utilizada como uma unidade de pesquisa e difusão tecnológica.
A Coordenadora do Pacto Federativo no Território Irecê, Sandra Amim, explica que a experiência de Aderlan com o cultivo de orgânicos será usada como referência metodológica para os agricultores da região, promovendo a interação do conhecimento científico com o popular. Estaremos promovendo periodicamente intercâmbios, palestras e visitas, com o objetivo de disseminar o conhecimento de Aderlan e incentivar mais agricultores a praticarem a agroecologia. Por outro lado, o agricultor estará totalmente inserido no projeto de pesquisa, auxiliando com os seus saberes e tomando a dimensão e importância da abrangência do seu trabalho, afirma Amim.
Segundo a técnica Stelina Vasconcelos, uma das atividades mais importantes que está sendo desenvolvida com a família de Aderlan é o processo de recaatingamento da sua propriedade. Depois de uma conversa sobre a porcentagem da área de caatinga existente em sua roça, Aderlan apresentou interesse em recuperar uma área de três tarefas. Aceitamos o desafio e entramos em contato com uma empresa que cedeu inicialmente 50 mudas; hoje já percebemos que esta ação tem incentivado os agricultores circunvizinhos com os cuidados com a terra, assegura Vasconcelos.
Estamos integrando toda a comunidade nessa ação, principalmente as crianças. Através de palestras desenvolvidas na escola municipal instalada na comunidade de Larga do Elói, trabalhamos com a mudança de comportamento visando o tripé da sustentabilidade: agricultura economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente justa, esclarece ainda Stelina Vasconcelos. A expectativa é que o exemplo de Aderlan incentive outros agricultores a recuperar os 20% da área de caatinga que está proposto e sancionado por lei no Código Florestal brasileiro. Futuramente, as agricultores poderão averbar estas áreas como reserva legal e adotar novos modelos, consorciando caatinga, plantio e criação de animais como o sistema agrossilvopastoril, gerando renda e mantendo a sustentabilidade, completa a técnica.
Para Aderlan, o projeto trouxe melhorias para sua propriedade e mais segurança para continuar realizando seu trabalho. Hoje meus filhos confiam mais na agricultura e veem em mim um exemplo. Com a bolsa que ganho pelo projeto, posso investir mais na minha roça e fico mais seguro pra experimentar novas técnicas, diz o agricultor. A vida sem a agroecologia não é vida, é só morte. Quero que todo mundo possa saber disso e que todos os agricultores vejam os benefícios dos alimentos orgânicos, pois eles transformaram a vida da minha família, conclui Aderlan Brasileiro.
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA)