Pesquisas na Embrapa buscam determinar índices de qualidade do solo
15/08/2011
Um solo com bons índices de produtividade não é, necessariamente, sinônimo de solo de qualidade, como muitos podem imaginar. De acordo com a pesquisadora Ieda Mendes, da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), processos que levam à degradação do solo são lentos e podem ter seus efeitos mascarados pelo aumento do uso de adubos e pesticidas. Um solo de boa qualidade é aquele que funciona bem e é capaz de estar em equilíbrio não só para manter a sua produtividade biológica e, assim, produzir grãos, leite, carne e fibras, mas, também, para exercer serviços ambientais importantes, como a ciclagem de nutrientes, sequestro de carbono, a fixação biológica de nitrogênio, controle biológico de pragas e doenças, além de contribuir para o armazenamento e filtragem da água, afirma.
Segundo a pesquisadora, ainda não há no Brasil um consenso de características básicas que devam fazer parte de um conjunto mínimo de parâmetros para quantificar a qualidade de solo. O que a gente está buscando, por meio de muito estudo, é definir quais seriam esses parâmetros mínimos que iriam compor esses índices de qualidade de solo, explica a estudiosa da Embrapa Cerrados. A vantagem de estabelecer um índice dessa natureza, segundo ela, é que ele poderia ser utilizado para alertar os produtores que utilizam técnicas de manejo que levam à degradação do solo. Por outro lado, também seria um meio de incentivar aqueles que adotam sistemas agrícolas conservacionistas.
Atualmente, ao avaliar a qualidade do solo, os agricultores brasileiros contam apenas com indicadores químicos e físicos. É comum o agricultor enviar para o laboratório uma amostra de solo e solicitar a análise química e física. A gente espera que no futuro essa análise também possa ser feita considerando os aspectos da maquinaria biológica do solo, que é quem faz o solo 'funcionar'. Hoje essa avaliação da microbiologia do solo, da parte viva que interfere na formação da matéria orgânica, não é feita, conta a pesquisadora, líder do projeto que busca selecionar os bioindicadores mais adequados para avaliação da qualidade dos solos brasileiros e de seus níveis críticos, em diversas regiões do país.
Esse estudo coordenado pela Embrapa Cerrados foi iniciado em 2004 e está em sua segunda fase. A partir de indicadores biológicos que retratem a situação do solo deverá ser possível mostrar quais as estratégias de manejo que a médio e longo prazo podem resultar, por exemplo, em redução do uso de fertilizantes e pesticidas. Em sete anos, já constatamos que os parâmetros microbiológicos foram mais eficientes do que os atributos químicos e físicos para detectar mudanças que ocorreram no solo. A grande vantagem de se trabalhar com indicadores biológicos é justamente poder detectar com antecedência alterações que só vão acontecer lá na frente, explica Ieda.
Indicadores físicos - trabalhos de pesquisa na área de indicadores de qualidade são conduzidos na maior parte das vezes com o intuito de obter ao final ótimas condições físicas de solo. Segundo a pesquisadora, num solo considerado de boa qualidade, o aspecto físico dele também será muito bom. Ele não terá nenhuma camada de compactação, estará bem estruturado, com mais condições de armazenar água e, assim, resistir à erosão, afirma. O pesquisador Jorge Enoch, especialista em recursos hídricos da Embrapa Cerrados, destaca a importância de garantir a qualidade física dos solos. Isso ajuda, por exemplo, a manter a vazão dos cursos d´água, especialmente nos períodos secos, e reduz o escoamento superficial na época das chuvas, evitando cheias e inundações.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados Robélio Marchão, que trabalha com qualidade do solo em sistemas agrícolas, dentre os indicadores propostos para avaliar a qualidade do solo em relação às suas propriedades físicas, o índice-S, derivado da curva de retenção de água do solo, tem sido utilizado como indicador de qualidade visando identificar sistemas agrícolas mais sustentáveis, a exemplo da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). Em um trabalho publicado recentemente, que contou com a participação da Embrapa Cerrados, foram apresentados novos métodos para obtenção do índice-S.
Essas descobertas abrem uma nova frente de estudos na área. A nova teoria proposta para obtenção do índice-S é mais consistente e robusta tanto do ponto de vista físico, quanto matemático, e ampliam as possibilidades de uso. Agora o estudo seguirá aplicando as novas fórmulas em amplo banco de dados para avaliar qual é a magnitude das diferenças da nova metodologia em relação à anterior e ainda quais são realmente os valores críticos do índice-S para os solos do Cerrado. O pesquisador explica que o índice-S é um indicador de qualidade do solo bastante promissor, pois permite agrupar praticamente todas as informações ligadas à porosidade do solo e derivadas da sua curva característica de retenção de água que, em um solo com boa qualidade e bem estruturado, tem normalmente um formato mais sinuoso em relação a um solo degradado.
O artigo científico com as novas propostas para cálculo do índice-S foi publicado na revista de Geociências da Academia de Ciências Francesa (http://dx.doi.org/10.1016/j.crte.2011.02.001) e foi um dos resultados do projeto liderado pela Embrapa Cerrados intitulado Cartografia de paisagens do bioma Cerrado e funcionamento de solos representativos. As pesquisas contaram ainda com parcerias da Embrapa Arroz e Feijão, Universidade Federal de Goiás e da Universidade de Orleáns, na França.
Histórico - a Embrapa Cerrados foi criada há 36 anos com o objetivo de ajudar a viabilizar a expansão da agricultura na região do Cerrado. Como nesse bioma não era possível simplesmente desmatar e cultivar sem a utilização de corretivos e fertilizantes, como vinha ocorrendo por exemplo naquela época ao longo do litoral do país, em região de solos férteis, era necessário grande investimento em pesquisa para que fosse possível plantar e colher de forma satisfatória nos solos ácidos da região.
Trabalhos de pesquisa relacionados à determinação de índices que avaliem a qualidade dos solos da região sempre estiveram de alguma forma relacionados ao dia-a-dia de pesquisa da Unidade. Com experimentação intensiva de campo, o Centro gerou critérios para interpretar a análise de solo e, com base nisso, recomendar, por exemplo, fertilizantes e corretivos em doses econômicas, o que propiciou o cultivo no Cerrado em produções adequadas e com retorno econômico.
As informações são da Embrapa Cerrados.