Greve põe oferta de sardinha em xeque
10/08/2010
Pesca: Trabalhadores do segmento em Santa Catarina reivindicam aumento do preço de entrega à indústria
Sem acordo sobre o preço do quilo pago pela sardinha, cerca de 1,2 mil pescadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Santa Catarina (Sitrapesca) permanecem em greve há mais de uma semana. Desde que as licenças para a captura foram expedidas em 31 de julho, os pescadores cruzaram os braços e não devem retomar o trabalho até que as empresas apresentem proposta de reajuste para o quilo do peixe. Segundo Manoel Xavier, presidente do Sitrapesca, a reivindicação é de R$ 1,20 para o quilo entregue em Santa Catarina e R$ 1,50 no Rio. Hoje, um acordo prevê como preço mínimo pelo quilo R$ 1.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Agnaldo Hilton dos Santos, diz que é de 2006 o acordo que estabeleceu R$ 1 como preço mínimo para o quilo da sardinha. "O que vai regular o preço é a lei da oferta de procura", disse. Santos classificou a reivindicação dos pescadores como "difícil de atender", mas diz que há um esforço das entidades para negociar e "ver o que se pode fazer de imediato".
Amanhã, os pescadores e representantes da indústria e dos armadores sentam juntos para uma nova rodada de negociações. Segundo Xavier, há forte determinação dos trabalhadores de não sair para o mar enquanto não houver proposta de reajuste para a sardinha. "Esperamos uma proposta que não seja primeiro pescar para depois discutir o preço", disse. Segundo ele, no ano passado o quilo da sardinha chegou a valer R$ 0,50, descontados custos de transporte.
Em 2009, a safra da sardinha foi de cerca de 100 mil toneladas no Sudeste e no Sul brasileiro, de acordo com o Sindipi. O período de captura da espécie vai de 15 de fevereiro a 15 de maio e de 1º de agosto a 1º de novembro. Na região, o peixe aparece na costa do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de Santa Catarina, do Norte do Estado até o Farol de Santa Marta. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, a captura é feita hoje por 210 barcos de grande porte no litoral brasileiro e é responsável por cerca de 3.500 empregos diretos. Em toda a cadeia produtiva da sardinha no Brasil há cerca de 15 mil empregos envolvidos.
Para Santos, do Sindipi, a paralisação prejudica Itajaí - já que a sardinha é o pescado que mais movimenta a cadeia local - e o consumidor brasileiro. "A indústria vai ter de recorrer ao importado para suprir a falta do pescado no Brasil", diz. O representante da indústria explica que a oferta é maior no exterior e que há compensação em importar o produto acabado.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), foram importados nos sete primeiros meses de 2010 US$ 81.313.97 em sardinhas enlatadas, contra US$ 280.448 no mesmo período de 2009. Como uma reação ao crescimento das importações do produto, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) alterou a alíquota do imposto de importação da sardinha em conserva de 16% para 32%.
Criada em março deste ano, a Ampex reagiu à decisão de aumento na taxa de importação. A empresa pertence a José Eduardo Simão, ex-sócio da Gomes da Costa.
A Ampex entrou no mercado com seis produtos - dois tipos de sardinha e quatro de atuns enlatados. Segundo Simão, a sardinha é trazida da Tailândia. Desde que começou a operar, a Ampex acumula R$ 18 milhões em faturamento.
Para Simão, Gomes da Costa e Coqueiro, marca da PepsiCo, as duas empresas que controlam o mercado de sardinhas brasileiro levaram o governo a cometer um erro ao ampliar a taxação sobre a importação do produto. "O mercado brasileiro não é autossuficiente. Consome cerca de 120 mil toneladas por ano e é obrigado a importar. Não vejo como pode proteger o pescador", disse. Segundo ele, as empresas são obrigadas a importar o peixe congelado para suprir a demanda. "Se houvesse aumento na taxação sobre a importação da sardinha congelada, aí seria uma forma de proteger o pescador".
Simão diz que vai buscar judicialmente formas de reverter a decisão da Ampex. Uma das estratégias foi um processo protocolado na Secretaria de Desenvolvimento Econômico acusando as empresas de prejudicar a entrada da Ampex no mercado. Procurada, a Gomes da Costa e Coqueiro não se pronunciaram sobre o assunto.
Valor Econômico
Autor: Júlia Pitthan, de Florianópolis