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Soja

30/07/2010
O Brasil colheu mais uma safra abundante de grãos em 2009/2010 no sul-sudeste e no centro-oeste, mas muitos dos agricultores dessas regiões já têm como certo que os resultados financeiros (quando houver) serão magros, e, em produtos da maior importância (em especial o milho) as margens de lucro serão negativas. O setor agrícola, mesmo repetindo recordes de produtividade na maioria das lavouras, ainda se prepara para voltar à rotina da renovação de empréstimos que já rolam há anos, sem muita esperança de reduzir o peso do passivo acumulado. O baixo clero político e as entidades semiclandestinas que o apoiam já procuram a mídia para constranger o governo a negar uma nova repactuação das dívidas, com expansão dos prazos de carência e renegociação dos débitos dos investimentos. O Ministério da Agricultura se apresta a concluir estudos para respaldar uma decisão do governo que permita agilizar a repactuação nos bancos oficiais e estimular o setor financeiro privado a operar na mesma direção. Alguns bancos que atuam de forma importante no financiamento do custeio agrícola já começaram a emitir sinais, concordando com que o refinanciamento é o caminho mais adequado para que os agricultores continuem a plantar. Apesar da obrigatoriedade de manter uma política fiscal sadia, o governo terá um milhão de argumentos favoráveis para amenizar os prejuízos no setor agrícola, pelos seguintes fatos que se verificaram interna e externamente e são responsáveis pelo encolhimento ou pulverização das margens de lucro das colheitas: câmbio descalibrado; preços das exportações em queda graças ao prolongamento da crise econômica mundial (e seu agravamento na Eurolândia devido à cumplicidade de governos e bancos na renovação das patifarias nos sistemas financeiros); elevação dos estoques de alimentos e sua maior depreciação facilitada pelas políticas de subsídios americanos e europeus; enfraquecimento do comércio global ainda em função da crise e meia-retração chinesa; e finalmente a contenção dos preços internos no Brasil diante da expectativa da supersafra de alimentos. Tais eventos encadeados contribuíram para a redução das margens de ganho dos produtores de milho, arroz e até mesmo a soja (com margem negativa para o milho em Minas, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul), num momento em que a agricultura brasileira aumenta ainda mais seus índices de produtividade, mantendo uma constância impressionante. Esses aspectos do desenvolvimento da agricultura brasileira foram realçados numa interessante entrevista da presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, senadora Kátia Abreu. Ela produziu um rápido histórico do que adequadamente chamou de "uma silenciosa revolução no campo brasileiro a partir dos anos 70, quando novos agricultores romperam com formas tradicionais de produção, apropriaram-se do conhecimento acumulado nas universidades rurais e na nova empresa brasileira de pesquisa agropecuária -a Embrapa- e trouxeram para a produção rural a disposição de assumir riscos e a compulsão do crescimento." A ilustre representante de Goiás citou alguns dados para mostrar o progresso impressionante: em 1965, o Brasil produzia 20 milhões de toneladas de grãos para uma população de 80 milhões (250 quilos por ano por habitante); em 2008, para 190 milhões de habitantes a produção chegou a 144 milhões de toneladas (758 quilos per capita). Com uma área de plantio apenas duas vezes e meia maior, a produção cresceu 7 vezes, no período. Conclui a senhora Kátia Abreu: "A ação desses novos empreendedores transformou a produção rural brasileira, tornando-a altamente produtiva em poucas décadas e a segunda maior do mundo em escala e diversidade de produção e a primeira e única grande agricultura em área tropical". O governo terá um milhão de argumentos para amenizar os prejuízos do setor agrícola. Artigo publicado na seção Opinião do jornal DCI,em 30.07.2010 DCI - Diário do Comércio & Indústria
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