Açúcar volta a despencar em NY em maio
01/06/2010
Das oito principais commodities agrícolas negociadas pelo país no exterior, produto foi o que mais caiu
A cotação média do açúcar voltou a despencar na bolsa de Nova York em maio, pelo quarto mês seguido. Cálculos do Valor Data com base nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega do produto apontam que, desta feita, a retração foi de 7,54% na comparação com abril. Das oito principais commodities negociadas pelo Brasil no exterior e referenciadas nas bolsas americanas de Nova York e Chicago, o açúcar foi a que amargou a maior retração de seu preço médio mensal.
Também foi assim em março e em abril, graças à influência da recomposição da oferta global no curto prazo, em razão da entrada na nova safra brasileira no mercado e, segundo analistas, de fortes vendas de fundos especulativos - os mesmos que ajudaram o açúcar a alcançar máximas em quase 30 anos em Nova York até janeiro.
Análise do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, contudo, sinaliza que a tendência pode estar perto do fim. Para os especialistas do banco, na atual temporada (2010/11) a relação entre estoques e consumo mundiais será baixa, o que poderá abrir espaço para a recuperação.
"Reforça este nosso argumento o fato de que no primeiro semestre está disponível no mercado apenas a safra brasileira, que responderá pelo acréscimo de açúcar disponível no mercado internacional, enquanto que no segundo semestre do ano entra a safra dos players [entre os quais Tailândia e Austrália] que têm grande parte da produção voltada para o mercado doméstico", diz a análise.
Com o novo tombo, a cotação média de maio ficou 38,09% menor que a de dezembro e, na comparação com maio de 2009, também já aparece um recuo de 6,87% - o que, definitivamente, provoca alteração nas estratégias dos grupos sucroalcooleiros brasileiros. Até abril, o resultado da comparação com a média do mesmo mês do ano passado ainda era positivo.
Das cinco commodities agrícolas transacionadas em Nova York que fazem parte do levantamento do Valor Data, o açúcar é a única que cujo preço médio do mês passado "perdeu" para o de maio de 2009. Café, suco de laranja, cacau e algodão seguem mais valorizados, mesmo que os dois últimos tenham recuado em relação a abril. Na comparação com as médias de dezembro, suco e algodão continuam com preço médio mais alto.
Em maio, como já está se tornando rotina, os mercados de commodities agrícolas voltaram a ser muito influenciadas por movimentos de investidores derivados de turbulências financeiras em outras frentes, o que reduz, ainda que não elimine, o peso dos fundamentos de oferta e demanda na formação de preços.
Por esse lado, contudo, as perspectivas de crescimento da economia mundial em relação ao ano passado ainda são mais que um alento, mesmo que o ritmo desse crescimento obviamente dependa do alcance da crise europeia. "A recuperação da economia mundial influenciará a retomada dos preços internos e externos das commodities", sustenta estudo da consultoria Lafis.
Intrinsecamente vinculadas a essas perspectivas por serem bases alimentares vitais, as cotações de soja, milho e trigo, negociados em Chicago, oscilaram muito mas registraram variações médias mensais relativamente modestas em maio. Para os três a oferta global permanece confortável, mas sobretudo para soja e milho o momento no campo dos fundamentos é de incertezas, uma vez que as lavouras do Hemisfério Norte ainda estão em fase de plantio ou desenvolvimento e é cedo para saber o clima aprontará ou não das suas.
Do trio, até agora os sinais mais confortáveis da relação entre estoques mundiais e consumo vêm da soja, e por isso amadurece uma expectativa de que as cotações em Chicago poderão recuar mais nos próximos meses. "Aumento relevante da oferta, crescimento modesto dos países desenvolvidos e diminuição dos movimentos especulativos devem manter o preço do produto sob pressão baixista", diz trabalho da RC Consultores. Soja, milho e trigo fecharam maio com cotações médias menores que as de dezembro e que as de maio do ano passado.
Valor Econômico
Autor: Fernando Lopes, de São Paulo