Poder de fogo para negociar
29/06/2009
Poder de fogo para negociar
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A produção da agricultura familiar no Brasil é responsável pela alimentação de milhares de pessoas e participa de forma importante no desempenho da economia do país. O segmento se destaca na produção de leite, feijão, café, milho e fruticultura, entre outros, e tem acesso a tecnologias e suporte de políticas públicas para a atividade. O grande entrave da agricultura familiar é a disputa por espaço no mercado e a dificuldade em garantir bons preços e condições na hora da comercialização.
Agricultores familiares da região Norte discutiram o tema durante evento na 49 ExpoLondrina na última segunda-feira. O público, de cerca de 400 pessoas, refletiu sobre a realidade do setor, mas também ouviu relatos de exemplos que comprovam que a organização e planejamento resultam em sucesso.
''O grande gargalo da agricultura familiar é a comercialização dos seus produtos'', afirma Arnaldo Bandeira, presidente da Emater, uma das promotoras do evento. ''O produtor já tem meios para obter bons resultados na terra, pois conta com tecnologias, assistência técnica e outras política públicas, como o Pronaf (programa de crédito para a agricultura familiar)'', completa.
Porém, na hora de vender a relação de troca é desfavorável. De acordo com o presidente da Emater, o agricultor familiar não tem organização nem acesso a informações de mercado e fica em posição desvantojosa ao vender os produtos. Isso acontece também quando vai comprar insumos e serviços para a produção.
Bandeira afirma que cabe ao Estado o papel de proporcionar as condições para harmonizar as relações entre os agentes econômicos. Segundo ele, o mercado por si só não dá conta de distribuir a riqueza de forma justa e solidária, e a parte que tiver mais força acaba se beneficiando.
O Estado deve participar do processo por meio da adoção de políticas públicas que facilitem a relação entre os agentes. ''O agricultor deve ser capacitado a atuar no mercado, por meio de conselhos, câmaras setoriais e redes de informação, mecanismos que o mercado tradicional utiliza'',afirma Bandeira.
Entre os mecanismos, o presidente da Emater cita o programa de compra direta, que possibilita a venda da produção para os programas governamentais, como alimentação escolar e restaurantes populares. Segundo ele, o governo também apoia cooperativas, condomínios e associações de agricultores familiares. A Emater, por exemplo, desenvolve uma política de fortalecimento do setor, com formação de dirigentes e gestores técnicos e assessoria para a organização das associações.
Vários exemplos de sucesso resultantes da organização dos agricultores familiares foram descritos durante o painel da ExpoLondrina. A comercialização do leite, por exemplo, é vantajosa para os produtores vinculados à cooperativa Valecoop, que reúne associaçoes de Colorado, Nossa Senhora das Graças e Santo Inácio.
A união dos agricultores conseguiu romper o modelo de remuneração do leite. Agora, em vez de receberem o que o laticínio define, os produtores conseguem negociar o produto antes da entrega. ''A média de preço alcançada fica nos parâmetros do Conseleite (conselho paritário que define uma referência para o preço do produto)'', diz Jurandi Machado, presidente da Valecoop. Segundo o dirigente, esta negociação foi feita com um grande laticínio da região.
Políticas públicas também são um importante mecanismo para o setor. Um deles é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal, que destina recursos às prefeituras para a compra de produtos da agricultura familiar. Em Toledo, R$ 1,3 milhão estão sendo utilizados para a aquisição da produção de 260 agricultores familiares.