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Entre a cruz e a espada

07/09/2009
Numa pequena propriedade rural, com dez hectares, vive a família de Sr. Antônio, sua esposa, que também ajuda nas atividades do sítio e dois filhos jovens, já universitários e que vivem atualmente fora, com expectativa de um dia voltar a viver na terra. Vivem ainda na propriedade, numa boa e confortável casa, os seus parceiros Mário e sua esposa, funcionários assalariados, devidamente registrados que trabalham na propriedade. São cinco hectares de café, quatro granjas de avicultura de corte, duas parreiras de chuchu, um pequeno lago, cerca de dois hectares de pasto e quase outros dois de áreas preservadas, de matas ciliares, já que um pequeno córrego atravessa a propriedade, grotas e nascentes e uma pequena mata na divisa da propriedade. Outro dia, Sr. Antônio, sua esposa e seu filho, de férias na faculdade de agronomia, estiveram numa reunião sobre questões ambientais, na sua comunidade rural. O palestrante destrinchou a legislação ambiental: reserva legal, áreas de preservação permanente, trinta metros de matas ciliares, cinqüenta metros de raio nas nascentes e recomposição de matas de topo de morro. Sr. Antônio chega em casa preocupado. Perde algumas noites de sono. Será que ele é algum tipo de vilão ambiental? Será que por causa da minha família e de meus vizinhos está faltando água de boa qualidade para as áreas urbanas? Mas, na propriedade de Sr. Antônio as áreas de pastagem não estão degradadas, contam agora, até com barraginhas para evitar a erosão e ajudar na infiltração de água; o café instalado nas áreas mais declivosas estão plantados em nível; e no chuchu usa-se um sistema de irrigação por microaspersão, mais eficiente na economia de água. As matas ciliares, se não chegam aos trinta metros, estão entre cinco a quinze metros e devidamente protegidas, para evitar a entrada dos poucos animais de leite da propriedade. As granjas já estão isoladas e as carcaças de animais mortos são devidamente compostados, de acordo com as normas e exigências da integradora. Sr. Antônio fica entre a cruz e a espada. Não quer ser visto como um vilão ambiental, menos sua família. Muito pelo contrário, se for preciso compromete-se a adequar sua propriedade para ajudar a melhoria do meio ambiente, já está inclusive instalando fossas sépticas biodigestoras nas duas casas do sítio, e da melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade. Mas como pensar em seguir “ao pé da letra” toda a legislação ambiental, pois caso contrário Sr. Antônio terá que diminuir sua área produtiva, tornando inviável a manutenção da propriedade. E como sustentar a família? E o que fazer com os funcionários? Serão mais dois desempregados buscando a sobrevivência em grandes centros urbanos. E o que dizer da produção de alimentos. Será que ninguém quer mais tomar uma boa xícara de café? Não vamos ter mais um gostoso suflê de chuchu? E um suculento frango assado, teremos que importar? Não é justo deixarmos Sr. Antônio ficar entre a cruz e a espada. Precisamos chegar num bom senso para que possamos pensar juntos num processo de desenvolvimento rural sustentável, trazendo benefícios para toda a sociedade inclusive, e principalmente, para àqueles que se dedicam de sol a sol no espaço rural, produzindo riquezas e alimentando esse país. Eng. Agr. Ricardo Moncorvo Tonet Casa da Agricultura de Amparo ricardotonet@cati.sp.gov.br
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