E o principal motivo de tal disparada é o clima ruim nas Planícies estadunidenses, o qual atinge negativamente muito mais o trigo atualmente do que a soja e o milho (o retorno parcial das chuvas no dia 06/07, e ajustes técnicos com vendas para auferir lucros por parte dos operadores, derrubou as cotações neste dia). Com isso, a possibilidade de uma produção ainda menor neste ano (o relatório de plantio apontou uma área semeada em recuo de 9%, ficando em 18,49 milhões de hectares, ou seja, a menor área desde que o país começou a registrar as estatísticas a respeito, em 1919) agitou o mercado. E nem mesmo o anúncio de que os estoques trimestrais na posição 1º de junho ficaram 21% mais elevados (32,1 milhões de toneladas) do que na mesma data de 2016 ajudou a reverter o quadro altista.
Por outro lado, as condições das lavouras de trigo de primavera nos EUA, o mais atingido pela seca, recuaram para 37% entre boas a excelentes, ficando o restante entre 30% regulares e 33% entre ruins a muito ruins no dia 02/07. Na semana passada as lavouras se dividiam respectivamente em 40%, 32% e 28%. Ainda no dia 02/07, 48% das lavouras de trigo de inverno estavam entre boas e excelentes condições, 35% em situação regular e 17% em condições entre ruins e muito ruins. Na semana anterior, os números eram de 49%, 35% e 16%, respectivamente. A colheita de trigo de inverno era apontada em 53% até o dia 2 de julho, contra a média histórica de 54% (cf. USDA, Safras & Mercado).
No Mercosul, a tonelada FOB para exportação oscilou entre US$ 180,00 e US$ 200,00, já repercutindo as altas em Chicago.
E aqui no Brasil, as condições de preços, que já vinham melhorando devido a escassez de produto nacional e do Mercosul, acabaram sinalizando novas melhoras devido ao mercado internacional.
E isso mesmo com o plantio avançando bem, tendo chegado a 92% no Paraná e 71% no Rio Grande do Sul no início da semana, afastando um pouco o receio de uma redução mais aguda na semeadura gaúcha, embora isso tende a ocorrer de alguma forma em determinadas regiões. Na Argentina, o plantio atingiu a 65% da área esperada no início de julho.
Em termos de preços internos, como as cotações na Argentina são balizadas por Chicago, um aumento dos preços nesta Bolsa, como é o caso, reflete indiretamente no Brasil devido a um custo maior na importação do trigo argentino, na medida em que o vizinho país repercute as altas nos EUA. Hoje o trigo argentino chega CIF São Paulo a R$ 823,00/tonelada. Para chegar ao mesmo destino o trigo paranaense no FOB teria que estar em R$ 674,00/tonelada. Já o produto do Kansas (EUA), nas atuas condições de preço, chega em São Paulo a R$ 1.139,00/tonelada. Isso significa dizer que, em se mantendo as altas em Chicago, o produto argentino deverá subir ainda mais, elevando os preços brasileiros por consequência. Especialmente se o câmbio no Brasil se mantiver acima de R$ 3,30 por dólar (cf. Safras & Mercado).
Todavia, não se pode esquecer que o limite para as altas está relacionado aos maiores volumes produzidos na Argentina, os quais, nesta nova safra, poderão se aproximar de 20 milhões de toneladas caso o clima ajude.
Neste contexto, a média gaúcha na semana chegou a R$ 31,83/saco, com viés de alta, enquanto os lotes ficaram entre R$ 36,00 e R$ 37,20/saco. No Paraná os lotes oscilaram entre R$ 39,60 e R$ 41,10/saco. Ou seja, os preços nacionais ainda não estão repercutindo a totalidade dos aumentos ocorridos no mercado internacional. Para tanto, é preciso que a Argentina, e os demais parceiros do Mercosul, aumentem ainda mais seus preços, sob influência de Chicago. Lembramos que somente da Argentina o Brasil já importou 3,8 milhões de toneladas de trigo neste ano. Ou seja, as indústrias nacionais ainda estão bem abastecidas.