De acordo com os princípios da agricultura orgânica a atividade animal deve estar, tanto quanto possível, integrada à produção vegetal, visando à otimização da reciclagem dos nutrientes (dejetos animais, biomassa vegetal), uma menor dependência de insumos externos (rações, volumosos) e a potencialização de todos os benefícios diretos e indiretos advindos dessa integração.
Portanto, como comentamos, é importante que a criação seja planejada de forma a se integrar nas demais atividades da propriedade. Na prática, a produção animal ainda está pouco integrada à produção vegetal. No que diz respeito à alimentação dos animais, as normas recomendam a produção própria dos alimentos orgânicos (volumosos e concentrados) por meio da formação e manejo das pastagens, capineiras, silagem e feno.
Neste aspecto, é importante que a maior parte da alimentação seja orgânica e venha de dentro da propriedade. Além dos bovinos, a alimentação de outros animais, deve ser complementada com material verde fresco (hortaliças, rami, guandu, gramíneas e outros). Inicialmente, os animais deverão ser alimentados com no mínimo 50% de produtos orgânicos. Com o passar do tempo serão toleradas percentagens de no máximo 20% de alimentação de origem não orgânica.
Em relação ao tratamento veterinário, o objetivo principal das práticas de criação orgânicas é a prevenção de doenças. Saúde não é apenas ausência de doença, mas habilidade de resistir a infecções, ataques de parasitas e perturbações metabólicas. Desta forma, o tratamento veterinário é considerado um complemento e nunca um substituto às práticas de manejo.
O princípio da prevenção sempre vem em primeiro lugar e, quando é preciso intervir, o importante é procurar as causas e não somente combater os efeitos. Por isso, é importante a busca de métodos naturais para tratamento veterinário.
O tratamento homeopático já vem sendo utilizado com bons resultados e diminuição de custos. Em relação ao manejo do rebanho, as instalações (galpões, estábulos, galinheiros e outros) devem ser adequadas ao conforto e saúde dos animais, o acesso a água, alimentos e pastagens também deve ser facilitado.
Além disso, as instalações devem possuir um espaço adequado à movimentação e o número de animais por área não deve afetar os padrões de comportamento. De forma geral, sugere-se que o regime de criação seja de preferência extensivo ou semi-extensivo, com abrigos. As mutilações de animais e utilização de substâncias destinadas à estimular o crescimento ou modificar o ciclo reprodutivo dos animais são contrários ao espírito da produção orgânica e, portanto, são proibidos.
O transporte dos animais deve ser efetuado de forma a respeitar os animais, evitando qualquer tipo de brutalidade inútil. Além disso, o abatedouro deve ser o mais próximo possível das propriedades. Em síntese, a qualidade de vida do animal tem profunda relação com a possibilidade do animal adoecer. Assim, um animal que é confinado com grande concentração de indivíduos, espaço limitado para locomoção, sem possibilidade de expressar seus modos naturais de comportamento, fica profundamente perturbado, sujeito a manifestações de estresse e sistema imunológico.
Como qualquer indivíduo nessas condições, os animais ficam mais propensos a doenças. Além de ajudar no equilíbrio técnico e ecológico da propriedade, a produção animal contribuí eficazmente na geração de renda. Para se ter uma idéia, de um conjunto de 57 propriedades orgânicas que acompanhamos na região metropolitana de Curitiba, as que obtiveram melhor desempenho econômico foram aquelas que tinham a produção animal como carro-chefe, aliado à transformação de produtos vegetais. Todavia, constatamos algumas dificuldades para expansão mais rápida da pecuária orgânica.
Segundo os criadores que mantivemos contato no estudo citado anteriormente, para o produtor que está iniciando na pecuária orgânica o principal entrave está relacionado à dificuldade de cumprir todas as normas exigidas pela certificadora, mostradas resumidamente no quadro 1. Além disso, existe o problema da comercialização de produtos animais orgânicos pela falta de uma legislação adequada aos alimentos orgânicos de origem animal.
Para ilustrar a necessidade urgente de uma legislação para o setor, vale lembrar que no Paraná um grupo de agricultores do município de Witmarsun, a cerca de 60 km de Curitiba, já vêm produzindo leite orgânico, sem ter a autorização para constar no rótulo o nome leite orgânico.
A saída dos produtores foi colocar no rótulo uma chamada dizendo que o leite foi produzido sem a utilização de ingredientes químicos desde a produção até o empacotamento. Para finalizar, cabe destacar que ainda existe um grande trabalho de pesquisa e desenvolvimento a ser realizado para que os consumidores possam desfrutar de derivados de produtos animais orgânicos em quantidade, qualidade, diversidade e regularidade. De qualquer forma, existem muitas oportunidades e quem sair na frente terá um bom mercado para explorar.